Quarentena

Hoje Kobe amanheceu mascarada.

A foto acima foi tirada do jornal Japan Times

Isso é o que acontece quando as pessoas não levam uma epidemia a sério e se julgam imunes a ela...

Infelizmente, vou quebrar uma imagem que a maioria dos ocidentais têm dos japoneses: a de que eles são super-higiênicos. Já perdi a conta do número de vezes em que, ao utilizar banheiros públicos, percebia que muitas mulheres, depois de terem cumprido suas funções fisiológicas, NÃO lavavam as mãos ou, quando o faziam, apenas davam uma passada rápida de água e já se punham a caminho.

Viajei de norte a sul nesse país e notei esse mau hábito em quase tudo quanto é canto. E não é por falta de sabonete nos banheiros, não! Mesmo em banheiros equipados com eles, vi muita gente não utilizando.

Agora, estou lendo notícias como essas:

Casos de gripe suína disparam no Japão

New flu infections in Japan pass 160 cases

Vídeo da NHK World em inglês

Sabores estranhos de sorvete

Encontramos estes sorvetes em Himeji, numa vendinha bem próxima ao castelo de lá.



Sorvetes cremosos nos sabores leite de soja e gergelim preto e leite de soja com melão. Experimentei o primeiro e achei uma delícia mas, como eu sou aquela mesma pessoa que também curte um doce de feijão e come mandioca crua, talvez seja uma boa idéia não confiar muito no meu gosto...

A marcha do algoritmo

Essa peculiar coreografia foi apresentada em um programa chamado Pitagora Suicchi (Viva Pitágoras, no Brasil):



O mais engraçado é ver os integrantes do Kawasaki Frontale, um time de futebol de Kawasaki (cidade colada em Tóquio), executando os movimentos sincronizantes da marcha...

A última do inferno

Como dizem que uma imagem vale mais que mil palavras, procurei um vídeo no YouTube pra poder mostrar pra vocês um pouquinho do que vimos lá em Beppu. Infelizmente, a maioria dos vídeos encontrados ou eram de má qualidade ou não mostravam todos os lugares visitados por nós.

Achei esse daqui um dos melhorzinhos... Foi feito por um cara das Filipinas e mostra quase todos os jigokus, com exceção do Chi no Ike (será que ele esqueceu de colocar na hora de editar o vídeo?).



Como o dono do vídeo não explicou ou mostrou com legendas a ordem em que visitou cada um desses parques, vou colocar aqui os tempos pra vocês saberem mais ou menos o que é que estão vendo:

   0:00 Kamado Jigoku

   2:50 Yama Jigoku (mostrando apenas os animais do mini-zoológico)

   4:06 Umi Jigoku

   6:32 Oni Ishi Bouzu Jigoku

   7:15 Yama Jigoku (dessa vez, mostrando as pedras e a fumaça)

   7:48 Oniyama Jigoku

   8:01 Shiraike Jigoku

   8:21 Tatsumaki Jigoku

O inferno do dragão sinuoso - Tatsumaki Jigoku



O último dos infernos não possui lagos de coloração estranha, apenas um gêiser, que jorra a cada 30, 40 minutos, embora o texto em inglês esteja dizendo 25. A placa em japonês traz o tempo certo:



Bem na frente tem umas arquibancadas de madeira pro povo sentar e esperar.

A palavra Tatsumaki normalmente significa jato d’água ou tornado, e é composta pelas palavras tatsu, que quer dizer dragão; e maki, fazer curvas, enrolar-se. Mas o primeiro kanji, o do dragão, está escrito de maneira diferente, motivo pelo qual eu acho que eles queriam fazer um jogo de palavras com o sentido de um jato d’água (gêiser) que tem o formato de um dragão sinuoso que voa em direção ao céu...

Quem assistiu ao maravilhoso A viagem de Chihiro deve saber que os espíritos dos rios e, por extensão, da água, normalmente são representados como dragões esguios, como o personagem Haku:



E assim termina, de maneira poética, o nosso passeio turístico pelos oito infernos. Ficaram faltando apenas dois infernos para conhecermos, e que não estavam incluídos no pacote do Jigoku Meguri que adquirimos: Kinryu Jigoku (inferno do dragão dourado) e Hon Bouzu Jigoku (verdadeiro inferno do monge, ou inferno do monge original). Fica pra uma próxima vez, quem sabe...

O lago de sangue do inferno - Chi no Ike Jigoku



É o mais antigo jigoku descoberto no Japão.

A presença de argila vermelha, rica em minérios de ferro, é a responsável pela assombrosa coloração vermelha desse lago.

As partículas de argila ficam em suspensão e fazem a água realmente assemelhar-se a sangue. No entanto, quando o vento sopra forte, dá pra perceber que a coloração do lago é normal:



Além de serem utilizadas como corante, dizem que essas águas também são boas para combater doenças de pele (até mesmo pé-de-atleta!). Nas lojinhas de lá, os principais produtos são exatamente um creme de argila vermelha para a pele e o exótico Aka purin(pudim vermelho), um pudim cremoso feito com onsen tamago coberto com uma camada de gelatina de vinho tinto.



Por último, uma máquina automática de refrigerantes, decorada com o diabinho-símbolo do lago:

Inferno do lago branco - Shiraike Jigoku



Foi o jigoku mais sem graça que visitamos. Consistia apenas de um grande lago de águas verde-esbranquiçadas (por causa da presença de SiO2) e de um aquário escuro e sujo, meio deprê, tanto que nem me animei a tirar foto.

No aquário, as estrelas eram todas sul-americanas: pirarucu da Amazônia e mais ou menos uma dezena de piranhas, como informa essa placa em um inglês meio macarrônico:



Fora isso, não lembro de mais nada que tenha chamado a atenção.

Esse jigoku mais os cinco anteriores ficam localizados na região de Kannawa. Para visitar os dois últimos, que ficam em outra região (Shibaseki), distantes a mais ou menos 3 km do Shiraike, fomos de carro.

O inferno da montanha do demônio - Oniyama Jigoku

De novo, essa fixação por montanha, quando se tratam apenas de montes de pedras entulhadas. Mas o lugar também é conhecido como Wani Jigoku, ou Inferno dos Jacarés, e este segundo nome é muito mais apropriado.



A placa explica (curiosamente, apenas em inglês e coreano; nada de japonês!) que utilizando apenas a pressão do vapor se consegue puxar até um vagão e meio de trem, e que o local fornece condições ideais para a criação de crocodilos e jacarés. E que condições deve ter por lá, pois havia desses répteis pra todo lado, de vários tamanhos (inclusive um que eles alardearam como sendo o maior crocodilo do mundo) e trazidos de lugares tão distintos como América do Sul, Austrália, ilha de Bornéu e Índia.



Um crocodilo chamado Ichiro

Vejam só a carinha do simpático:



Ichiro (ou Ichirou) nasceu na parte malaia da ilha de Bornéu em 1925 e veio com apenas três meses para o Japão. Tornou-se estrela do Oniyama Jigoku, sendo propagandeado como o maior crocodilo do mundo, mas não me perguntem qual o tamanho dele, pois não me lembro de ter visto placa nenhuma indicando. Além disso, estou achando que essa história de ser o maior do mundo é mentira da grossa, pois não encontrei registro do bendito em parte alguma da net, exceto por alguns sites japoneses falando sobre Beppu. Na Wikipedia em inglês não há menção alguma do Ichiro entre os crocodilos de maior tamanho.

Independente disso, o bicho já bateu as botas, em 30 de agosto de 1996, aos 71 aninhos, e hoje encontra-se empalhado dentro de uma caixa de vidro no meio do parque.

Curiosidade inútil: o nome Ichiro foi tirado de um mangaka, Tominaga Ichirou*, que nasceu no mesmo ano que esse animal e fez uma série de ilustrações dele.

* Ordem japonesa: primeiro sobrenome, depois nome.

O forno do inferno - Kamado Jigoku


A foto acima mostra o demônio-símbolo do local, Aka Oni (demônio vermelho), segurando na mão direita um chamoji (colher para pegar arroz) que traz escrita a palavra Kamado e na esquerda um porrete cheio de espinhos que, suponho, seja pra evitar que lhe roubem a comida...

Kamado é um tipo de ânfora ou vaso de cerâmica que era utilizado como forno pelos antigos japoneses. Eles cavavam um buraco na terra, colocavam carvões em brasa ou pedras aquecidas embaixo e depois baixavam o vaso para cozinhar. Depois, esse forno primitivo evoluiu e ganhou um aspecto mais parecido com o de um fogão a lenha.

E o jigoku leva esse nome justamente porque o povo da região costumava cozinhar arroz utilizando o vapor quente que emana das pedras de lá.

Água a mais de 100 graus


De todos os infernos que visitamos, o de Kamado foi que apresentou a maior variedade de fontes. Lagos de águas azulíssimas, como no Umi Jigoku, montanhas de lama borbulhantes, águas medicinais, tinha de tudo um pouco para os fãs de águas calientes.

Boca do fumo


Estão vendo esse buraco de onde sai vapor? Fica logo abaixo da estátua do Aka oni, e na plaquinha ao lado está dizendo que se você colocar um cigarro aceso ou riscar um fósforo na frente do vapor que sai dele e soprar com força, por alguns momentos a quantidade de vapor vai aumentar algumas dezenas(!) de vezes. Infelizmente, como anti-tabagistas convictos que somos, não dispúnhamos de nenhum dos aparatos acima mencionados para fazer essa experiência.

Onsen de pé


Para quem pensava que os jigokus só possuem águas com temperaturas proibitivas, há também algumas onsen, ou fontes com temperatura mais amena, abaixo dos 50oC. Essa daí é exclusiva para os pés, esses nossos instrumentos locomotores de que tanto abusamos nesta viagem.

Notaram a bandeira coreana do lado esquerdo? Pois é, o local parece fazer muito sucesso entre esses vizinhos asiáticos, pois vimos placas escritas em hangul pra todo lado.

Águas medicinais


Problemas de garganta ou pele? Nada como um vaporzinho medicinal pra acabar de vez com esses incômodos. Também há uma nomu onsen, ou onsen para beber, com efeitos supostamente benéficos para o corpo todo. O problema é que dizem que você tem de beber essa água todos os dias, ou seja, são ¥400 (uns 9 reais) saindo do seu bolso a cada 24 horas só pra entrar nesse jigoku...

Related Posts with Thumbnails