Osaka Bang! Slash!

É por essas e outras que eu adoro morar em Kansai...



Um programa de variedades no Japão decidiu testar como o povo de Osaka reagiria se alguém imitasse o som de um tiro ou brandisse uma espada invisível.

Agora, se fosse no Brasil, sei não, acho que esse repórter já tinha levado no mínimo uma bordoada (se não fosse coisa pior)...

Festival de Gion 2

Mais fotos...

Outro carro alegórico


月鉾 Tsuki hoko (foto acima)

É o carro que representa a lua crescente, tão cultuada pelos japoneses (durante o outono, eles até têm um tipo de "ritual", o Tsukimi 月見 que significa, literalmente, "admirar a lua") desde tempos imemoriais. O Tsuki hoko é ricamente adornado com tapeçarias antigas e algumas preciosidades, como a pintura do teto, feita por Maruyama Ōkyo (円山応挙), um dos maiores artistas japoneses do século XVIII, e os refinados entalhes na madeira feitos por Hidari Jingorō (左甚五郎), um artista (que muitos acreditam ser fictício) do século XVII, também responsável pela superfamosa escultura do gato adormecido no santuário de Nikkō (日光東照宮 Nikkō Tōshō-gū):

Foto: Frank Gualtieri Jr. (in memoriam)


E mais outro, em formato de navio




船鉾 Fune hoko (foto acima)

Este carro alegórico é dedicado à imperatriz Jingū que, segundo a lenda, mesmo grávida enfrentou o mar com sua esquadra para conquistar a Coréia. Historicamente, nunca existiu nenhum registro comprovando o feito, e muitos estudiosos creem que essa estória seja apenas fruto de propaganda nacionalista. Ou seja, a praga do ufanismo exacerbado já existia mesmo em tempos antigos... Mas, política e fanatismos à parte, a lenda acabou identificando a imperatriz como uma deusa do parto, e esse carro é muito popular entre as mulheres por esse motivo, embora ambos os sexos se maravilhem com os complexos e belos entalhes na parte superior do casco do navio.


Buquê de flores


O carro acima é chamado de Hoshō-yama 保昌山, e conta a história de Fujiwara Yasumasa (Hoshō é outra maneira de ler Yasumasa em japonês), um samurai do século XI que, por amor a uma dama, colheu galhos com flores de ameixa do palácio imperial (o que, imagino eu, constituía um crime dos mais graves). Não sei que fim (provavelmente trágico) levou esse samurai, mas o carro alegórico com sua figura é dedicado ao deus do Amor.

Samurai acrobata?


Apesar de a foto acima parecer uma versão antiga e japonesa do Cirque du Soleil, na verdade não passa de um daqueles momentos "congelados" à la Matrix de um monge guerreiro chamado Ichirai que, no afã de ir combater seus inimigos, pulou sobre seu companheiro de batalhas (todo coberto de plástico por causa da ameaça de chuva) Jōmyō para chegar na frente. Para você ver como as aparências enganam...

Carregadores


Não são apenas deuses, imperatrizes ou guerreiros famosos que dão o ar de sua graça no festival; as classes menos favorecidas também estão representadas, como estes carregadores de cestas multi-uso. Quando o desfile deu uma paradinha, para esperar que os carros da frente se movimentassem, vi que os caras abriram uma das cestas e dela tiraram...duas latas de refrigerante! Apesar do tempo feio, o dia estava abafado e calorento, e estes dois espertos puderam se refrescar tranquilamente enquanto esperavam na fila...

O último carro


南観音山 Minami Kan'non Yama (foto acima)

De acordo com o regulamento tradicional do Festival de Gion, todos os anos este carro deve vir por último na procissão, assim como o Naginata Hoko deve ser o primeiro. A ordem dos outros trinta carros alegóricos é decidida através de sorteio, no comecinho de julho, com a participação do prefeito de Quioto. Este costume começou em 1500(!) e tem sido feito assim desde aquela época para evitar conflitos, picuinhas e ressentimentos entre os participantes.

O Minami Kan'non Yama é dedicado a Yōryū Kan'non, deusa da compaixão e da piedade, e sua imagem, junto com a de um santo(?) é colocada neste carro. Dizem que essas duas figuras protegem o povo de qualquer tipo de enfermidade. Também se acredita que o imenso ramo de salgueiro que fica encarapitado no alto ajuda a espantar as doenças.

Detalhe do enfeite lateral do Minami Kan'non Yama


Kusudama (literalmente: "bola de remédio") antigamente era utilizada como um reservatório de incenso, ervas aromáticas ou medicinais, que eram armazenados em seu interior. Há quatro delas, enormes, penduradas uma em cada canto do último carro alegórico, que já estou começando a apelidar de "pronto-socorro alegórico", tamanha a quantidade de símbolos para afastar as moléstias que encontrei nele...

Segurança no desfile


Réplicas em miniatura dos carros alegóricos à venda


Referência: Quase toda a informação sobre os carros alegóricos foi retirada do livreto que é distribuído de brinde a todo mundo que compra um lugar para assistir ao desfile.

祇園祭 - Gion Matsuri - Festival de Gion

Considerado um dos três maiores festivais do Japão (junto com o Festival Tenjin em Osaka e o Festival Kanda em Tóquio), o Festival de Gion (lê-se "guiôn") dura praticamente todo o mês de julho, mas o ponto forte para alguns, especialmente turistas estrangeiros, que congestionam todo espaço disponível na cidade, é o desfile de carros alegóricos no dia 17.

Apesar de morar relativamente perto de Quioto e de ter o dia livre, acabei desanimando de ir justamente por pensar no sufoco que iria encontrar por lá, com o empurra-empurra dos que querem um lugar ao sol (literalmente; hoje está fazendo tempo bom...e muito quente!) e os muitos desvios de câmeras alucinadas que parecem mirar sua cabeça quando na verdade lutam por uma foto exclusiva de um evento exaustivamente filmado e fotografado desde sei lá quando...

Enfim, este artigo vai ser um pouco econômico nas palavras, pois vou deixar que as imagens do desfile do ano passado mostrem mais ou menos como é a coisa:


Exército de samurais


Naginata-hoko, o primeiro carro


Naginata-hoko chegando perto
Foto: Chris Gladis



Ainda o mesmo carro, mostrando meninos de cara pintada



Mais outro carro! (bem, o desfile tem 32 deles)



Comissão de frente



Exibição de leques



Com exceção do primeiro carro, que tem crianças como "mascotes", os demais trazem bonecos na frente



Flautistas empoleirados



Enquanto isso, no teto, uns trabalham...



...enquanto outros...

Sabores estranhos de sorvete V

Fãs de Allium cepa, tremei com gosto! Chegou a hora de apresentar este sorvete de cor duvidosa cujo preparo pode levar muita gente às lágrimas...



O lugar onde ele pode ser encontrado é na ilha de Awaji (Awajishima 淡路島), na província de Hyōgo, entre as ilhas maiores de Honshū e Shikoku. Lá fica o paraíso dos amantes de cebola, pois as plantações desta aliácea se encontram por todo caminho e é possivel adquirir quilos e mais quilos por preços razoáveis.



O local específico onde entrei em contato com a cebolada e o sorvete esdrúxulo tem o curioso e comprido nome de "Parque-Fazenda da Colina da Inglaterra em Awajishima" (淡路島ファームパーク イングランドの丘 Awajishima faamu paaku Ingurando no oka).

Cebolas, cebolas


Nesse parque-fazenda tinha um monte de atrações, como um pequeno museu contando a história da ilha de Awaji [1], belos jardins de rosas e outras flores espalhadas em volta, estufas mostrando exemplares de vegetação de diversos ecossistemas (deserto, floresta tropical etc.), um mini-zoológico, parques de diversões para as crianças e criações de vários animais de fazenda, com uma área onde crianças e adultos podiam tocar alguns deles (coelhos e cavalos, principalmente).

Campo de cebolas em Awajishima


Mas vamos à análise do sorvete: Nas primeiras lambidas, sente-se o sabor inconfundível da cebola, não crua, mas aquela que se frita no óleo até ficar bem douradinha. A única diferença é que o sabor é adocicado. No começo, achei uma delícia mas, à medida em que ia acabando com o sorvete, o gosto passou a ficar meio enjoativo. Tanto que quase não aguento chegar até o fim do dito cujo, além de sair correndo pelo parque na busca frenética de um bom copo d'água. Resumo da ópera: o sorvete é bom, se for dividido a dois (ou três, ou quatro...). Para ser ingerido versão solo, é enjoativo.

[1] Há uma exposição bem interessante: um domo transparente contendo figuras tridimensionais dos deuses Izanami e Izanagi em cima de uma nuvem que paira sobre o oceano do caos. Eles seguram uma lança (ou alabarda) divina e, com ela, vão mexendo o "cozido" caótico para criarem os primeiros pedaços de terra firme no mundo (que, é lógico, começou com o Japão...). E a ilha de Awaji foi a primeira das oito ilhas criadas por esse casal divino. Por isso, é comum encontrar por lá slogans do tipo "O Japão começou aqui". E isto porque eles estão sendo "modestos"; afinal, se o Japão foi o primeiro país criado no mundo e Awaji foi a primeira das ilhas do arquipélago a aparecer, se quisessem se gabar de verdade, diriam: "O mundo começou aqui"...

Mês das noivas: Resposta do artigo anterior (finalmente)!

Resposta certa: C: Porque Juno, a deusa da mitologia romana protetora dos casamentos e da maternidade, é a deusa que deu nome ao mês.



Por mais incrível que possa parecer, esta é a resposta certa.

Embora as estatísticas apontem que este não é o mês mais procurado pelos casais para o seu enlace matrimonial, ele ainda é considerado mês das noivas porque os japoneses importaram da Europa essa antiga crença de que toda mulher que se casasse no mês consagrado à esposa do poderoso Júpiter teria um casamento feliz.

O engraçado é que esse parece não ter sido o caso da deusa em questão, que sofria constantemente um inferno conjugal toda vez que seu todo-poderoso marido flertava com outras deusas ou escapava do Monte Olimpo para "confraternizar" com as mortais lá embaixo.

O deus safado e sua esposa ciumenta.
Detalhe de uma pintura de James Barry (1741-1806).


As noivas de junho

Por aqui existe a expressão ジューン・ブライド juun buraido (noiva de junho), importada do inglês e usada para se referir às moçoilas que pretendem se casar nesse mês.

Cerimônia de noivado no castelo de Kumamoto.
Foto gentilmente cedida por Satoru.


Na Europa, junho é um dos meses mais aprazíveis, pois o inverno foi embora, os dias são normalmente ensolarados e não muito quentes e as flores exalam seu melhor perfume. Fica fácil entender por que é uma época boa para se casar, não?

Mas junho no Japão é o mês do tsuyu 梅雨 ou estação chuvosa. Também é uma época sem feriados, dificultando a vida de quem gostaria de curtir uma boa lua-de-mel. Isso explica em parte por que motivo muitos casais não desejam juntar suas escovas de dente no sexto mês do ano, embora a princesa Masako e o príncipe Naruhito, talvez para honrar essa tradição importada, tenham se casado no dia 9 de junho de 1993.

De qualquer modo, as opções A e D foram totalmente inventadas por mim, a opção B só vale para a Europa e a opção E, embora não constitua uma inverdade, não é a causa de o mês levar a alcunha, mas consequência disso e das chuvaradas que tiram a vontade de casar de muitos japoneses.

Referência: O artigo escrito em japonês pela senhora Kume Minako no All About.

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