月鉾 Tsuki hoko (foto acima)
É o carro que representa a lua crescente, tão cultuada pelos japoneses (durante o outono, eles até têm um tipo de "ritual", o Tsukimi 月見 que significa, literalmente, "admirar a lua") desde tempos imemoriais. O Tsuki hoko é ricamente adornado com tapeçarias antigas e algumas preciosidades, como a pintura do teto, feita por Maruyama Ōkyo (円山応挙), um dos maiores artistas japoneses do século XVIII, e os refinados entalhes na madeira feitos por Hidari Jingorō (左甚五郎), um artista (que muitos acreditam ser fictício) do século XVII, também responsável pela superfamosa escultura do gato adormecido no santuário de Nikkō (日光東照宮 Nikkō Tōshō-gū):
船鉾 Fune hoko (foto acima)
Este carro alegórico é dedicado à imperatriz Jingū que, segundo a lenda, mesmo grávida enfrentou o mar com sua esquadra para conquistar a Coréia. Historicamente, nunca existiu nenhum registro comprovando o feito, e muitos estudiosos creem que essa estória seja apenas fruto de propaganda nacionalista. Ou seja, a praga do ufanismo exacerbado já existia mesmo em tempos antigos... Mas, política e fanatismos à parte, a lenda acabou identificando a imperatriz como uma deusa do parto, e esse carro é muito popular entre as mulheres por esse motivo, embora ambos os sexos se maravilhem com os complexos e belos entalhes na parte superior do casco do navio.
O carro acima é chamado de Hoshō-yama 保昌山, e conta a história de Fujiwara Yasumasa (Hoshō é outra maneira de ler Yasumasa em japonês), um samurai do século XI que, por amor a uma dama, colheu galhos com flores de ameixa do palácio imperial (o que, imagino eu, constituía um crime dos mais graves). Não sei que fim (provavelmente trágico) levou esse samurai, mas o carro alegórico com sua figura é dedicado ao deus do Amor.
Apesar de a foto acima parecer uma versão antiga e japonesa do Cirque du Soleil, na verdade não passa de um daqueles momentos "congelados" à la Matrix de um monge guerreiro chamado Ichirai que, no afã de ir combater seus inimigos, pulou sobre seu companheiro de batalhas (todo coberto de plástico por causa da ameaça de chuva) Jōmyō para chegar na frente. Para você ver como as aparências enganam...
Não são apenas deuses, imperatrizes ou guerreiros famosos que dão o ar de sua graça no festival; as classes menos favorecidas também estão representadas, como estes carregadores de cestas multi-uso. Quando o desfile deu uma paradinha, para esperar que os carros da frente se movimentassem, vi que os caras abriram uma das cestas e dela tiraram...duas latas de refrigerante! Apesar do tempo feio, o dia estava abafado e calorento, e estes dois espertos puderam se refrescar tranquilamente enquanto esperavam na fila...
南観音山 Minami Kan'non Yama (foto acima)
De acordo com o regulamento tradicional do Festival de Gion, todos os anos este carro deve vir por último na procissão, assim como o Naginata Hoko deve ser o primeiro. A ordem dos outros trinta carros alegóricos é decidida através de sorteio, no comecinho de julho, com a participação do prefeito de Quioto. Este costume começou em 1500(!) e tem sido feito assim desde aquela época para evitar conflitos, picuinhas e ressentimentos entre os participantes.
O Minami Kan'non Yama é dedicado a Yōryū Kan'non, deusa da compaixão e da piedade, e sua imagem, junto com a de um santo(?) é colocada neste carro. Dizem que essas duas figuras protegem o povo de qualquer tipo de enfermidade. Também se acredita que o imenso ramo de salgueiro que fica encarapitado no alto ajuda a espantar as doenças.
Kusudama (literalmente: "bola de remédio") antigamente era utilizada como um reservatório de incenso, ervas aromáticas ou medicinais, que eram armazenados em seu interior. Há quatro delas, enormes, penduradas uma em cada canto do último carro alegórico, que já estou começando a apelidar de "pronto-socorro alegórico", tamanha a quantidade de símbolos para afastar as moléstias que encontrei nele...
Referência: Quase toda a informação sobre os carros alegóricos foi retirada do livreto que é distribuído de brinde a todo mundo que compra um lugar para assistir ao desfile.
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