A melô do lobisomem

Não gosto muito de postar vídeos da NHK que encontro no YouTube, porque o pessoal da televisão estatal japonesa tende a ser bem vigilante e os vídeos piratas acabam sendo apagados mais cedo ou mais tarde, mas tem certas coisas que não dá pra resistir. Como essa "Canção do Rururu", por exemplo. Ou, como eu prefiro chamá-la, a Melô do Lobisomem.

Essa música, além de ser fenomenal, é facílima de aprender e, de quebra, pra quem está interessado em aprender japonês, ensina vários verbos.



A letra em português é a seguinte:

À noite
O círculo
Brilha
Abro os olhos
Levanto
Olho
Despontam (os dentes)
Crescem (os pelos)
Uivo
Corro
Subo (o morro)
Pulo
( 2 vezes )

Levanto
Como
Círculo
Despontam (os dentes)
Crescem (os pelos)
Problema
À tarde
Trabalho
Círculo
Ainda despontam
Crescem
Problema
( 2 vezes )

Sabores estranhos de sorvete II

Estes aqui encontramos em Okinawa, na ilha de Ishigaki. Sabores disponíveis eram: manga, cana-de-açúcar e batata-doce roxa. Como manga já é sabor velho conhecido em quase todo mundo, fiquei dividida entre os dois últimos.




Acabei comprando o de cana-de-açúcar, que tinha gosto mais familiar embora inédito na versão sorvete; parecia que estava comendo rapadura, só que bem geladinha.

E, para matar a curiosidade de meus estimados leitores, para o bem da ciência e, por que não dizer, do meu estômago, a gulosa aqui também acabou comprando o de batata-doce roxa...

Esse, sim, sabor verdadeiramente estranho; parecia que o sorvete queria grudar no céu da minha boca, que nem bala de coco. Mas, depois de engolido, deixava um sabor meio esquisito, levemente amargo, difícil de explicar. Só mesmo experimentando, folks.

Como traumatizar seus filhos

Este vídeo já é meio velhinho mas vou colocar por aqui, na esperança de que alguns de vocês ainda não o tenham visto.

Um pai sádico contrata um ator para personificar um zumbi e aterrorizar seus filhos, e ao mesmo tempo permite que filmem o pânico das crianças para ser exibido pra todo mundo.



Sei, não... Acho que esse pai deveria ser obrigado a fazer exame psicológico. Se ele quer se tornar repórter, que não o faça às custas da sanidade de sua prole.

Fé na selva de concreto

Outro dia fomos almoçar em um restaurante nas alturas, lá pelo décimo alguma coisa andar de um edifício. Na saída, uma espiada pela janela nos revelou uma pequena surpresa:



Não esperava nunca encontrar um jinja (leia-se "djindja"), ou santuário xintoísta assim, no alto de um prédio e no meio de tanto cimento, concreto e caos urbano.



Curso rápido para entender a diferença entre um santuário xintoísta (jinja) e um templo budista (chamado em japonês de o-tera ou tera): o primeiro sempre tem um torii (aqueles portões normalmente pintados de vermelho, como você pode ver na foto acima e na foto mais abaixo) e costuma trazer estátuas de animais (leões, cachorros, uma mistura dos dois ou, como no caso da foto, raposas) como guardiões. Não é uma regra rígida, pois existem alguns templos budistas que também fazem uso do torii, mas como esses templos são poucos e normalmente se encontram junto a santuários, dá pra se afirmar mais ou menos com segurança que tudo que tiver o portão mais o par de estátuas de animais guardando a entrada pode ser considerado como jinja.


Este corredor feito de centenas de Torii enfileirados marca a presença de solo sagrado na subida para o santuário xintoísta de Fushimi Inari, em Quioto.

Uma coisa leva a outra

Ramune de Kobe


Querendo escrever sobre Ramune, não quis me limitar a simplesmente mostrar fotos da garrafa; queria ir mais a fundo e mostrar a história por trás dela.

Então, resolvi fazer pesquisa naquele lugar em que 99,9% das pessoas com internet decidem procurar, ainda que esteja mais do que provado que as informações lá contidas não sejam confiáveis: a WIKIPÉDIA.

Encontrar o verbete Ramune eu encontrei, mas não na Wikipédia em português. Além disso, uma rápida comparação entre os artigos escritos em inglês e japonês me mostrou que as informações estavam longe de serem completas e, além disso, eram conflitantes entre si!

Fiquei pensando no monte de gente que lê aquele artigo em inglês (língua muito mais universal do que o insular japonês) e é levado a acreditar em informações errôneas e pior, passam esse erro adiante em blogs e outros meios como eu tive a oportunidade de verificar fazendo uma pesquisa rápida sobre o tema.

Cuidado para não se alienar demais ou passar por palhaço por confiar na Wikipédia!

Como o refrigerante é exclusivamente japonês, é um pouco óbvio que as informações mais corretas estejam nesta língua. Fuça daqui, fuça dali, e eu acabo descobrindo coisas muito além do que nos ensina essa inculta Wikipédia...

Daí me baixou um "santo" que me pediu encarecidamente que tivesse dó dos milhões de falantes de língua portuguesa sedentos (desculpem o trocadilho) por saber mais sobre essa bebida mas que não dispõem de conhecimentos linguísticos suficientes da língua dos samurais para irem beber (Ah, pra quê negar? Eu adoro trocadilhos! :) nas fontes principais do saber ramuneístico...

Resolvi botar a mão na massa e escrever eu mesma um artigo sobre Ramune na Wikipédia lusófona. O resultado, meus amigos, está aqui.

E a coisa não parou por aí: entusiasmada por ter publicado algo escrito por mim em uma enciclopédia consultada por zilhões de pessoas e com vontade de contribuir para a difusão de conhecimento entre os falantes da língua portuguesa (essa última flor do Lácio...), acabei me metendo a criar mais artigos e estou, agora, escrevendo mais ou menos regularmente por lá.

E tudo começou por causa desse meu bloguezinho...

A garrafa da bolinha

Dia desses, estava eu pensando no que é que iria escrever aqui neste blog, quando me veio a idéia de falar sobre uma bebida muito comum por aqui e praticamente inexistente em qualquer outro canto do mundo: Ramune.

A bebida em si não tem nada de extraordinário; trata-se apenas de uma soda limonada um pouco menos doce do que as fabricadas no Brasil.

O que é legal, o que chama a atenção mesmo é o formato da garrafa e a maneira de abri-la: ela não tem uma tampinha metálica, mas uma bolinha de gude vedando o bocal!



É isso mesmo. Uma bolinha de vidro é colocada dentro da garrafa e, quando a mesma é preenchida com o líquido carbonatado, a pressão do gás carbônico se encarrega de "empurrar" a bolinha para cima e tampar a saída. Para abrir, você tem duas opções:

a) Usar o dedo para empurrar a bolinha de novo para dentro. Não recomendável pois, além de não ser higiênico (lavou as mãos direito, seu Zé, dona Maria?), pode acabar em acidente (dedo preso no bocal, dedo que vai com muita força na bolinha e faz explodir o líquido na cara, machucados etc.etc.);

b) Usar o abridorzinho de plástico que sempre é oferecido junto com a garrafa. Basta colocá-lo em cima da bolinha, dar uma empurrada não muito forte e voilà!

Tá, mas daí vem a pergunta: - Mas se eu inclinar a garrafa, a bolinha não vai cair de novo no bocal e fechar tudo, me impedindo de tomar a bebida?

Pois aí é que está a engenhosidade de seu inventor, o britânico Hiram Codd: a garrafa de vidro foi moldada de tal maneira que o seu gargalo se afunila, para não deixar a bolinha totalmente livre, leve e solta lá dentro e, além disso, ainda há duas "lombadas" em seu interior que servem como obstáculos para que a bolinha não volte a tapar a entrada. Basta posicionar a dita cuja de gude entre essas duas lombadas e beber à vontade sua soda limonada, de preferência bem geladinha.



Ah, não aguenta ou não quer beber tudo agora? Sem problema! Dá pra voltar a tampar a garrafa tranquilamente e metê-la na geladeira à espera de outros goles. Basta desviar a bolinha das lombadas e fazer com que ela se posicione de novo no bocal, inclinando bem a garrafa, que a pressão do gás (se ainda tiver, é lógico) faz o resto.

Acho que vendo como se abre fica melhor de entender:

Funcionária de museu por um dia

Já posso dizer que me tornei funcionária do Museu Nacional de Nara! Pelo menos, na cabeça de dois velhinhos.

Deixa eu explicar como tudo se passou, desde o começo: sempre que visito museus, procuro por placas indicando se é permitido ou não fotografar as peças em exposição, pois alguns não têm restrição nenhuma e você pode fotografar à vontade, enquanto outros não permitem nada.

Estátua de madeira pintada de Aizen Myōō sentado (sânscrito: Rāgarāja). Importante Tesouro Cultural do Japão. Período Kamakura, Era Kenchō 8 (1256).

Na entrada, não encontrei nenhuma placa proibitiva. Mas, para ter certeza, resolvi inquirir um dos guardas que estava por lá. Apesar de ter feito a pergunta em japonês, o homem me respondeu em inglês e se esforçou ao máximo para manter a conversa comigo nessa língua.

Muito gentil, ele me explicou que quem desejasse tirar fotos deveria primeiro obter uma permissão especial. Ele me encaminhou a uma mulher, explicando a ela do que se tratava. Essa mulher também conversou comigo em inglês, visivelmente nervosa. Sei lá, acho que eles são treinados a responder automaticamente em inglês assim que olham pra uma cara estrangeira.

O interessante é que ela também não era a pessoa responsável a me ceder a tal permissão especial pra fotografar, mas meramente uma intermediária (suponho que o guarda não quisesse deixar a entrada do museu sem vigilância e me entregou à primeira pessoa que viu pra poder voltar rapidinho ao seu posto). De qualquer forma, ela me encaminhou a uma mesa onde, aí sim, tinha a funcionária que iria me explicar os procedimentos para obter a bendita permissão.

Ela me mostrou um folheto escrito em diversas línguas e me pediu, em inglês (estou começando a achar que isso é inculcado neles em nível subliminar: Toda pessoa com cara de estrangeiro deve falar inglês. Fale com eles apenas nessa língua, mesmo que eles demonstrem ter conhecimentos de japonês...), que eu lesse atentamente as instruções, que diziam mais ou menos o seguinte:

* Não usar flash;
* Fotografar apenas as peças que tragam escritas as palavras "Nara National Museum";
* Não utilizar as fotos para nenhum fim comercial.

Após ter lido e concordado, tive de escrever meu nome, nacionalidade e deixar meu endereço em um livro. Quando achei que estava tudo finalmente terminado, eis que a mulher lê que sou residente daqui do arquipélago mesmo. Juro que até escutei um clic! vindo da cabeça dela quando caiu em si e percebeu que estava gastando o inglês dela à toa! Ahahahahah!

Mais à vontade, ela me disse (em japonês!) que faltava uma última coisinha. Ai...Nessas alturas do campeonato, já estava arrependidíssima de ter aberto minha boca pro guarda... Deveria ter assumido que a ausência de placas indicava que se poderia tirar fotos à vontade como, aliás, muita gente inferiu, e me poupado toda aquela viagem burocrática.

Bom, essa última coisinha a que a funcionária se referia era uma braçadeira enorme e verde, com os dizeres "Museu Nacional de Nara". Muito prestativa, ela se ofereceu para ajeitar o trambolho no meu braço direito. Feito isso, estava finalmente liberada e sancionada para tirar fotos.

Estátua de Kannon Bosatsu (Avalokitesvara). Período Hakuho (Século VII).

No entanto, notei que era a única pessoa dentro daquele museu usando o distintivo, embora houvesse outros de câmera nas mãos, tirando fotos impunemente sob o olhar displicente dos guardas e funcionários do local. Paciência. Pelo menos, tenho o consolo de ter feito tudo dentro dos conformes.

Também comecei a clicar pra todo lado e estava no meio dessa prazerosa atividade (não estou sendo irônica; eu realmente gosto de visitar museus e tirar fotos) quando um velhinho se aproximou e me perguntou (em japonês!):

- Como você consegue tirar fotos através do vidro que protege as estátuas? Não é melhor abrir o vidro?

Expliquei pra ele que, se deixar a lente da câmera bem rente à vitrine protetora, normalmente não há problemas com reflexos de luz na foto. Ele murmurou um "Ah, éééé? Não sabia disso!" de surpresa com os meus conhecimentos fotográficos e já ia se afastando, quando um outro velhinho que o acompanhava perguntou pra ele:

- Como você sabia que essa estrangeira falava japonês?

A resposta:

- Ah, é que eu notei que ela trabalha aqui. - E apontou para a minha braçadeira monstruosa.

Depois dessa, não liguei mais para o fato de ser a única portadora do estandarte verde e estufei o peito, toda orgulhosa de ter sido transformada em fotógrafa profissional de museu! Ainda que somente por um dia...

Azulejo de cerâmica com a figura de Buda. China, século VI.

Quarentena II

No auge do pânico por causa dessa Shin Gata Infuruenza (novo tipo de influenza) ou gripe suína, como os jornais continuam a noticiar aí no Brasil, as máscaras viraram artigo raro e disputadíssimo em supermercados e farmácias. Antes da gripe, uma máscara comum não costumava passar dos 100 ienes. Agora, chegamos a encontrar máscaras por até 400 ienes! Que bandidagem! Mesmo assim, os produtos não paravam nas prateleiras.

Nós conseguimos, na base de muita sorte e enfrentamento de fila, uma pequena coleção delas:



Na entrada de lojas de departamento e de vários outros estabelecimentos comerciais, é comum encontrarmos uma mesinha cheia de garrafinhas de álcool e avisos pedindo aos clientes que esterilizem as mãos antes de entrar no lugar e tocar nas mercadorias. Também há diversos folhetos explicativos sobre a doença, como este aqui, de uma rede de supermercados, que aconselha a lavar as mãos e fazer gargarejo com frequência, usar máscara, alimentar-se regularmente e ter uma dieta equilibrada:



Dentro do folheto, o supermercado espertamente sugere que se faça estoque de alimentos para pelo menos duas semanas, e fornece uma lista de coisas para comprar.

Moral da história: Em tempos de crise, sempre busque obter lucro em cima do povo desesperado.

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