Comparações...

São inevitáveis. Podem ser ridículas, podem ser desnecessárias, preconceituosas ou mesquinhas, mas sempre existem, mesmo que em nível subconsciente.

Pois foi só eu botar meus lindos pezinhos em terras tupiniquins, depois de um bom número de anos longe delas, para as comparações entre os dois países me atacarem de todos os lados. Vamos citar algumas:

Real versus iene



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Quem diria que, alguns míseros anos atrás, a moeda brasileira era desprezada e desvalorizada, enquanto dólar e iene esbanjavam vitalidade e poder de compra? Lembro-me de ter até me sentido como uma ricaça há coisa de meia dúzia de anos passados, quando aportei em terras brasileiras recheada de ienes com valor nas alturas. Fiz a festa! Hoje a situação se inverteu e é o real que está dando baile nas combalidas notas estrangeiras. Estou sendo obrigada a pensar duas vezes antes de comprar qualquer coisa, além de pesquisar muito os preços e readquirir o hábito de pechinchar, inexistente no Japão.

Lesma com artrite reumática

Assim eu defino a velocidade de conexão no Brasil. Que agonia, que suplício, que verdadeiro deus-nos-acuda ter de usar a internet por aqui! Brasileiros conectados devem possuir uma paciência infinita, digna dos maiores ascetas budistas, para conseguirem navegar por estas águas cibernéticas paradas, sem nenhum vento ou motor para impulsioná-los. Ou será que eu sou muito azarada e só pego computador bichado da parentada (aqueles com disco rígido lotado, conexão discada e servidor meia-boca)?

Sei que há uma diferença muito grande entre o país do tudo-certinho e o país do carnaval (onde tudo acaba em samba...) em termos de evolução tecnológica, mas não imaginava que fosse tão abismal. Ai, que saudades da minha fibra óptica e dos vídeos do VocêTubo que carregam em 2 segundos!..

Entre topadas, tropeções e cocô de cachorro



Estou tomando uma lição de humildade das calçadas brazucas. Elas têm me obrigado a andar quase o tempo inteiro olhando para baixo e prestando atenção às suas mais mínimas e potencialmente fatais irregularidades para não cair. Nariz empinado, nem pensar! Pode levar a uma testa rachada e esfolamentos dos mais variados graus de gravidade... Sem contar os inúmeros desvios de cocô canino e outros dejetos de origem ignota...

Enquanto isso, do outro lado do mundo...praticamente nunca reparo onde estou pisando, pois a superfície que me sustenta é normalmente lisa e livre de quaisquer obstáculos.

Dizem que o partido que estava no poder no Japão desde 1955, o LDP (da sigla em inglês Liberal Democratic Party, 自民党 Jimin-tō, ou Partido Liberal Democrata), tinha um acordo com as firmas de construção e, por isso, o Japão vivia em obras. O que significa que as calçadas eram sempre mantidas em perfeito estado de conservação.

Agora que o partido de oposição, o DPJ (Democratic Party of Japan ou 民主党 Minshutō, Partido Democrata) conseguiu tomar o poder e eles prometeram não se curvar mais diante do cartel das construtoras, ninguém sabe como vai ficar a situação das obras em andamento, das estradas e, claro, das vias de pedestres...

Além disso, acredito que no arquipélago asiático não existem cães vira-latas, abandonados (pelo menos, nunca vi um), e quase todos os bichos que sentem necessidade de usar a "toalete" ao ar livre têm sempre um dono ou dona do lado munido/a de pazinha e saco plástico pra coletar a sujeira. Já no Brasil...


De que maneira se dá o dinheiro na hora de pagar pelas compras? Onde se joga o papel higiênico?

Vocês podem achar que se tratam de questões ridículas e triviais mas, para um japonês (ou uma expatriada de longa data como eu), as respostas para estas perguntas adquirem contornos relevantes e podem significar a diferença entre um(a) turista bem preparado(a) e a mais completa ignomínia.

A primeira pergunta me foi feita por uma senhora japonesa que, por ter parentes morando em São Paulo, ficou interessada em conhecer o Brasil.

Na Terra do Sol Nascente, você nunca pode colocar o dinheiro no balcão, todo largado, pois isso constitui uma falta de educação e um desrespeito para com a pessoa que trabalha no caixa. Normalmente, há sempre uma bandejinha que fica ao lado da caixa registradora ou é colocada à sua frente pelo funcionário(a) da loja para que você deposite a quantia a ser paga. Para os raros casos em que essa bandejinha estiver ausente, deve-se esperar que a outra pessoa estenda a mão para que o dinheiro lhe seja entregue.

Foto do blog Parazinet


Confesso que nunca tinha reparado como era esse processo no Brasil, mas respondi a essa senhora que não tínhamos muito método para fazê-lo, e que as bandejinhas definitivamente eram artigos inexistentes para tal fim.

E quanto ao destino do papel que se usa no banheiro? A resposta a essa pergunta ilustra muito bem como o hábito é uma coisa extremamente arraigada dentro de nós.



No Japão, todos os rolos de papel higiênico são feitos de tal maneira que se dissolvem em contato com a água. Assim, depois de ter feito o "serviço sujo", basta ir jogando o papel usado dentro do vaso sanitário (ou retrete, como dizem os meus amigos portugueses), dar a descarga e não pensar mais no assunto.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, os papéis nojentos têm de ser jogados em um cesto, que deve ser recolhido a intervalos regulares para que o mau-cheiro não se alastre demais. Esse lixo deve ser mais tarde queimado, o que consome tempo e dinheiro (alguém tem de fazer esse trabalho e tem de ser pago por isso), além de liberar gases na nossa tão abusada atmosfera.

Como eu já me habituei a rotineiramente jogar o papel dentro do vaso, o faço de maneira mecânica, sem o mínimo esforço para pensar. E, por conta disso, já devo ter entupido banheiros em pelo menos três estados brasileiros por onde passei, cigana do jeito que estou, a visitar parentes em todo canto...

Post Scriptum: As fotos foram colocadas às pressas (na corrida para publicar este artigo antes do Natal) e estão meio mal-ajambradas. Assim que dispuser de mais tempo, vou tratar de substituí-las por algo mais decente.

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