35 anos da gata sem boca



Novembro já chegou ao fim e eu acabei me esquecendo de mencionar esse ícone da meiguice, da moda e de todas as coisinhas fru-fru que completou 35 anos no dia 1o do dito mês, com direito a muita festa e diversos eventos espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Para quem não sabe, essa gatinha atende pelo nome de Kitty White, nasceu em Londres e tem uma irmã gêmea chamada Mimmy. Criada pela designer Ikuko Shimizu em 1974, a felina de lacinho (ou florzinha) na orelha esquerda já virou de tudo, desde enfeites pra cabelo, bolsas, bijuterias até guitarras Fender, carro da Mitsubishi e rifles (oh, my god!)!!

Também já desfilou modelitos elaborados por Karl Lagerfeld, John Galliano (Maison Dior), virou capa (e matéria) da Vogue Nippon e teve seu rosto cravejado de diamantes ou banhado em ouro puro.

Acessórios para celular Hello Kitty Dior. Foto do site Chip Chick


Hard Rock Café em Osaka


E pra quem achava que conseguiria se livrar dessa quadrúpede de bigode se escondendo no banheiro, aqui está a triste realidade:

Papel higiênico nos "sabores" (Hã? Alguém come isso?) melão e morango


Apesar de ser um produto inicialmente voltado para o público feminino infantil, hoje conta com uma legião de fãs entre as mulheres adultas e até mesmo entre os barbados. Já cansei de ver portadores do cromossomo Y exibindo a cara inconfundível da gata branca em acessórios dos mais variados por aqui.

Produtos Hello Kitty nos Estúdios da Universal


Desfile de Halloween


Há lojas oficiais espalhadas por todo o arquipélago e, por causa da fixação que algumas parentas minhas revelaram ter por essa bichana albina, me vi obrigada a frequentar esses locais e até mesmo possuir cartãozinho de pontos, porque os pedidos de compras nunca param.

Fachada de uma das trocentas lojas oficiais da gatinha


Aliás, minha mala veio lotada de vários itens Hello Kitty cuti-cuti do Japão até a terra brasilis. Logo, logo, devo preencher todo aquele bendito cartão de pontos e trocar, adivinhem pelo quê? Óbvio, mais Hello Kitty! É um círculo vicioso no qual me vejo inexoravelmente presa e incapaz de escapar, mas que faz a delícia de minhas primas, sobrinhas e cunhadas, além de engordar os bolsos dos executivos da Sanrio com meu suado dinheirinho.


Mais fotos desse bicho e seus produtos em outros blogs:

. Whorange - um monte de fotos de produtos HK.

. Style List - uma galeria de fotos com mais produtos ainda...

. Hello Kitty Hell - site hilário de um homem que tem de conviver com a hellokittymania da esposa que, para desgraça dele, é vendedora dos produtos da Sanrio.

Aviso aos navegantes



Ao meu seletíssimo grupo de leitores fiéis e para aqueles que acabam de "esbarrar" neste blog, aviso que não vou poder escrever artigos para o Japanisitices por mais ou menos umas três semanas. O motivo, garotada, é que estou de malas prontas para ir para o BRASIL, SIL, SIIIILLLL!!!

É isso mesmo. Vou curtir umas férias e matar saudades da comida da mamãe (e da mamãe também, é claro! :), aproveitar pra fugir do friozão brabo aqui do arquipélago, rever o povo que ainda se lembra de mim e me entupir de tanto comer mandioca crua, iuupiii!!!

Bom, eu falei mais ou menos umas três semanas sem artigos porque vou desbravar o interiorzão do Brasil, e as chances de que vou ter acesso a internet são mínimas. Mas, assim que tiver uma oportunidade, volto a postar. Espero escrever pelo menos uns dois artigos antes do Natal, por isso, não desanimem e podem começar a cantar Jinguru Berusu (Jingle Bells) e ajeitarem a árvore tranquilamente que ainda vem mais Japanisitices por aí...

Pra terminar: se vocês dispuserem de uma conta no Blogger e quiserem ser avisados quando eu atualizar por aqui, basta clicarem no canto superior esquerdo desta página, onde tem escrito "Follow" ou "Seguir este blog" ou algo do gênero e pronto. Assim que eu publicar coisa nova, ficará registrado no campo "Atividades" de sua conta no Blogger e, a próxima vez em que entrar nela, verá que o Japanisitices foi atualizado (aaai...espero que essa minha explicação apressada não tenha sido muito confusa...São quatro e meia da matina e eu ainda tô aqui, acordadona, acertando os últimos detalhes antes de minha partida.).

Até a próxima, pessoal!

Pepsi sabor feijão!

Alguém disse uma vez que as papilas gustativas dos japoneses são diferentes das do resto do mundo e, apesar de eu não gostar muito de generalizar, sou obrigada a reconhecer que isso parece fato. Pois quem, se não eles, pra inventarem um refrigerante com sabor tão esdrúxulo como esse?

A novidade foi lançada em 20 de outubro, mas somente poucos dias atrás tive a oportunidade de encontrar alguns exemplares à venda no supermercado perto de minha casa.

No meu caso, não bastou ver nas prateleiras para crer. Tive também que comprar e experimentar para ter certeza de que o negócio era real mesmo.

Por incrível que pareça, apesar de não conter nenhum traço de azuki (feijão menor que o carioquinha e de cor vermelha), com ingredientes 100% artificiais, eles conseguiram recriar o sabor do feijãozinho japonês de maneira quase perfeita.



Portanto, senhoras e senhores, aqueles que já leram meu artigo "Sabores Estranhos de Sorvete" sabem que meu veredicto não poderia ser outro: gostei da bebida!



Não é de hoje que a Pepsi vem tentando inovar no setor de refrigerantes de sabores esquisitos no Japão. Vocês aí devem se lembrar de ter visto a notícia (saiu na Folha de São Paulo e no site Kibe Loco) de quando a empresa inventou uma Pepsi sabor pepino, há coisa de mais ou menos dois anos.



As vendas devem ter sido muito boas, pois decidiram continuar testando os limites do gosto humano e, ano passado, se saíram com uma Pepsi sabor Blue Hawaii, um tipo de coquetel feito à base de rum, suco de abacaxi e licor Curaçao. Obviamente que não criaram nenhuma pepsi de teor alcoólico; os ingredientes são todos extremamente artificiais.

Esta eu não gostei muito, apesar da belíssima e cintilante cor azul-turquesa-radioativo... O sabor parecia com o daqueles chicletes tutti-frutti, dos quais eu nunca fui muito fã.



Em junho desse ano, inventaram de novo, dessa vez uma Pepsi sabor Shiso, um tipo de planta (gênero Perilla) da mesma família da hortelã que é normalmente comida junto com sashimi ou utilizada em saladas por aqui.





Esta pepsi também caiu nas minhas graças: o sabor marcante e exótico da shiso (lê-se como "chissô") dava um toque bem refrescante à bebida. E o cheiro...maravilhoso! De todas as pepsis de sabores estranhos, foi a que mais me agradou.

Pena que todos esses lançamentos são por tempo limitado: duram apenas três meses (uma estação) e depois somem, para nunca mais voltar...snif,snif...

Kaōs e carimbos

Alguns dias atrás recebi uma encomenda entregue por takkyuubin (宅急便 Serviço de entregas em domicílio). Na hora de assinar o recibo, em vez de pegar a caneta e escrever meu nome, como faria aí no Brasil, corri até a gaveta e saquei o meu mitomein (認印), carimbo de assinatura.

Para receber pacotes do correio ou cartas registradas, dá pra assinar com um carimbo feito de plástico, com apenas o sobrenome escrito, encontrado facilmente em lojas do tipo 1,99 (que no Japão são chamadas de lojas de 100 ienes ou hyaku (y)en, como se diz por aqui). Adoro fazer compras lá!
Foto: Angie. Encontrada na Wikipédia.


Quando vou ao banco e tenho de autenticar algum documento, de novo tenho de sacar um carimbo, desta vez chamado de ginkoin (銀行印, literalmente, carimbo de banco).

Para qualquer procedimento ou registro em que o nome de uma pessoa tenha de ser verificado além de qualquer dúvida, os japoneses usam carimbos especiais, que no geral são chamados de inkan (印鑑) ou ainda hanko (判子: Lê-se "ranco"), mas ganham nomes específicos dependendo de seu propósito, como os já mencionados mitomein e ginkoin.

Quando se trata de algum negócio mais sério, como fechamento de contratos, compra e venda de imóveis ou casamento, o carimbo utilizado contém o nome completo da pessoa de maneira bem estilizada e é chamado de jitsuin (実印).



O jitsuin é um carimbo tão importante que tem de ser registrado oficialmente na prefeitura mais próxima do local onde a pessoa mora. Ao registrá-lo, ganha-se um tipo de carteirinha, que também pode ser requerida junto com o jitsuin na hora de selar algum contrato de negócio ou matrimônio.

Sua confecção normalmente exige um profissional especializado, os materiais utilizados são de melhor qualidade (pedra, âmbar, madeiras nobres...nada de plástico!) e deve ser guardado num lugar absolutamente seguro, como um cofre, ou debaixo de sete chaves, como diz o dito popular.

Exemplos de materiais utilizados na confecção de um jitsuin: Ébano (madeira rara) e ágata (uma variante de quartzo)


Se você tiver a infelicidade de ter o jitsuin roubado ou falsificado, é como se alguém se apossasse de todos os seus documentos de identificação e ganhasse acesso livre e controle sobre toda sua vida como cidadão. Daria uma dor de cabeça danada ter de provar que sua "assinatura" não foi feita por você e que aquela compra de milhões não foi efetivada em seu nome...


Alguns exemplos de estojos para o armazenamento de inkan, em que as almofadinhas de tinta normalmente vêm junto. Alguém aí adivinha qual desses estojos abriga um legítimo jitsuin?


Mas, e quanto a assinaturas de verdade, aquelas feitas de próprio punho? Existem aqui no Japão? Sim, existem, mas como quase tudo que envolve escrita neste canto do globo, ganhou status de obra de arte.

Uma kaō (a palavra normalmente é escrita assim: 花押 e significa, literalmente, "que retém (a forma de) uma flor") é um tipo de assinatura altamente estilizada, marca ou monograma utilizado para expressar não apenas o nome do indivíduo, mas também suas mais profundas aspirações, sonhos e desejos.

Surgiram primeiro na China (em mandarim, fala-se huāyā, mas os caracteres utilizados são os mesmos adotados pelos japoneses) durante a Dinastia Tang, por volta do século VIII.

No Japão, começaram a ser usadas durante o período Heian (foi descoberta uma kaō de um tal de Sakanoue Tsuneyuki [1] datada do ano 933).

Primeiramente, foram usadas apenas por membros da aristocracia (funcionários da corte, nobres e samurais), mas, no final do século XI, pessoas comuns também puderam criar suas próprias kaō(s), embora tivessem de trazer junto o seu nome escrito de maneira simples para serem aceitos como confirmação de negócio.

Diz-se que, ao longo de sua vida, Oda Nobunaga (1534-1582), um célebre senhor feudal (daimyo) do Período Sengoku ("Guerras Civis" ou "Guerras Internas") trocou de kaō dez vezes. Isso porque, à medida que suas ambições mudavam de rumo (e se tornavam mais grandiosas), fazia-se necessária uma assinatura que refletisse essas mudanças. Ou porque, mesmo naquele tempo, já existiam pilantras falsários que se apoderavam de um exemplar de assinatura e o copiavam à perfeição, obrigando o senhor feudal a mudar periodicamente seus rabiscos...

Uma das dez kaō(s) utilizadas por Oda Nobunaga


Além dele, vários outros personagens históricos importantes também criaram sua próprias assinaturas estilizadas. Dentre eles, os ditos "sucessores" de Nobunaga na sua tarefa de unificar o Japão: Toyotomi Hideyoshi [2] e Tokugawa Ieyasu:

Kaō de Toyotomi Hideyoshi

Kaō de Tokugawa Ieyasu


Apesar de seu uso ter caído em declínio após o período Edo (1603-1867), esse estilo de assinatura ainda continua sendo usado por alguns políticos e pessoas famosas.

A leitura e identificação de cada kaō normalmente requer conhecimento especializado; livros inteiros dedicados ao assunto já foram publicados. Muitos desses livros foram escritos por um tal de Mochizuki Kakusen 望月 鶴川 [3], que parece estar se esforçando mesmo para ressuscitar a moda das kaō, mostrando-as como uma refinada obra de arte e, obviamente, lucrando com a administração de cursos para o aprendizado dessa assinatura estilosa.

Fontes de referência:

1) Os artigos "Hanko" e "Kaō na Wikipédia em inglês.
2) A página em português do site oficial da cidade de Ritto (Shiga-ken) sobre "Inkan".
3) A página em japonês sobre "História da Kaō", no site Kakusen Ryu.

Notas explicativas:

[1] Não tenho muita certeza de ter traduzido corretamente o nome desse indivíduo. Será que é Tsuneyuki mesmo? Se alguém puder me ajudar a confirmar (ou não) o primeiro nome desse personagem obscuro da história, fico agradecida: 経行. Nomes próprios são difíceis de ler em kanji até mesmo para os próprios japoneses, que sempre pedem que, logo em cima do nome escrito em caracteres chineses, venha a leitura dos mesmos escrita em um dos silabários mais simples utilizados por eles, hiragana ou katakana. Sem nenhum desses outros alfabetos pra me ajudar, acabei meio que "chutando" o nome do cara... Apenas o sobrenome dele consegui confirmar certinho: 坂上= Sakanoue.

Um adendo: pra quem ainda não sabe ou está lendo este blog pela primeira vez, eu sigo a ordem japonesa na hora de escrever os nomes: sempre o nome da família (sobrenome) vem primeiro, e por último vem o "primeiro" nome do dito cujo.

[2] Não providenciei nenhum link do Toyotomi Hideyoshi para a Wikipédia em português (ou qualquer outra fonte de informações nessa língua) porque considero o artigo de lá como desinformativo, muito mal-escrito e capenga. Se alguém quiser saber mais sobre um dos grandes senhores feudais do Japão, recomendo que compre um livro específico sobre o homem, porque na net não consegui encontrar nada que preste... Aliás, também não coloquei link para o Oda Nobunaga pelo mesmo motivo.

Que desgosto que dá ver nossa bela língua, esta última flor do Lácio, tão inculta, maltratada e pisoteada pelos seus próprios falantes!

[3] A Wikipédia (novamente ela!) traz o nome desse distinto como MochiDuki Kakusen. Dessa vez, não se trata de erro de nenhuma das partes: eu escrevi da maneira como o nome dele seria pronunciado; a Wikipédia optou por escrever da maneira como um teclado japonês transcreveria o nome do cara para alfabeto romano.

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